segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Ao filho que nasceu (Palavras Revisitadas)

Como és lindo, anjo meu. Ao te ver dormir assim, tão tranquilo, até esqueço de onde estou e de tudo aquilo que me aflige. Dormes quieto e tens sono pesado; diferente de mim, que já não durmo. Não durmo por esta aflição de assim viver. Vivo em luta e sinto que morro. Morro por viver e não amar. De repente, teu grito me faz ver que estás vivo e teu choro me faz querer te acalentar. Teu riso leva-me ao ponto de chorar feliz ao ver-te contente. Vejo em ti a ternura que em mim já não via; e em mim, vejo o amor virando cura. Tu curaste minh'alma já morrendo. Morria em meu íntimo por acreditar que o amor acabara. Então, me fizeste  ver que o amor não morreu; que ele vive e se chama "filho"...


Adaptado em 01 de outubro de 2012
Texto original em 11 de junho de 2008,
em homenagem ao pequeno Ícaro, um filho do meu coração que acabara de nascer.

Palavras Revisitadas


Dia desses, enquanto organizava meus cacarecos, encontrei alguns textos escritos por mim a mais ou menos cinco anos atrás. Reli todos eles e me deparei com três ou quatro leituras interessantes – os demais eram apenas devaneios de um cara no auge dos 18 anos de idade (risos). Decidi adaptar os textos que me encantaram e torná-los públicos. Dessa iniciativa, surge o que vou chamar de Palavras Revisitadas, publicando textos antigos com o teor original, porém com algumas alterações cabíveis. Vocês poderão acompanhar a série nas próximas postagens. Faz-se importante comunicar que não haverá uma sequência periódica, mas sempre que postar um texto desses o identificarei com a expressão “Palavras Revisitadas”. Assim será possível perceber quando fiz uso das palavras de um jovem escritor de 18 anos. Boa leitura.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Menino de minh'alma

Meu "eu menino" anda meio desanimado. Justo ele, que sempre me incentivou a crer no sentimento, agora questiona se vale a pena acreditar mais um pouco. Pobre menino. Agora ele chora, lamenta. Todavia, não desiste da vida nem dos homens. Porque sabe que enquanto houver um fôlego de si em minha alma, haverá também um riso nos meus lábios. O homem que habita meu ser deve sua força e esperança a esse nobre menino, que jamais me negou seu espírito quando precisei de um pouco de infância. Não me deixe, caro menino de minh'alma. Já não serei o mesmo sem tua força. Não mais o meu riso terá brilho, se não tiver também ternura de tua vida em mim.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

E a saudade

              Andei pensando na saudade. Na verdade, a saudade andou me fazendo pensar. Pensei no quanto a vida é breve e no quanto ela é feita de instantes. Instantes eternos; e efêmeros também. Andei pensando na saudade e constatei que nem sempre é saudade isso o que sinto. Porque o que sinto é desconsolo por não viver o que gostaria. Ou será que isso é saudade é também? - Saudade do que não se viveu. - De fato andei pensando na saudade porque ela se abateu sobre mim. Fez-me lembrar das coisas belas que vivi e também das coisas não vividas (ainda mais belas). Mais belas porque não deixaram o espaço do sonho, e enquanto for sonho serão perfeitas. Sim, porque os sonhos são o vislumbre da felicidade possível, ainda que inacreditável. Vai ver foi por isso que a saudade me fez pensar: porque ainda não vivi tudo o que há para ser vivido. Enquanto isso, vou vivendo os instantes possíveis e dando sentido ao riso que trago no rosto. Sempre em direção ao horizonte. Sempre em direção ao sonho possível. Até não mais sentir saudade...

terça-feira, 17 de julho de 2012

É a vida.


A gente tenta. Acredita. Desilude e se frustra. A gente chora. Chega até a pensar em desistir. Então, a vida nos coloca diante do inesperado e ouvimos uma voz sussurrante: “acredite um pouco mais”. Logo percebemos que a conquista está logo à frente. E que os obstáculos foram um mero capricho do destino para que nos tornássemos mais fortes e tivéssemos do que nos orgulhar. A vida não é uma caixinha de surpresas. É um livro com páginas em branco, cujo desenrolar da história depende de quem acredita e, mesmo sem forças, decide virar a página e continuar a escrever... Eu virei a página.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

É... Não há como mudar isso.


Olhos perdidos. Alma muda. Que dizer de um coração que não fala? Apenas olha. Apenas lamenta. Jamais seremos capazes de compreender os significados mais viscerais da vida. Nunca, por mais que tentemos, conseguiremos apreender toda a lição que o destino nos ensina. Uma verdade que nem sempre se revela, mas que sempre estará ali: pronta a nos confrontar e extirpar nossa satisfação ilusória. A gente acha que vai aprender com o tempo. Que aos poucos conseguiremos domar os nossos instintos e assumir o controle de nossas emoções. Ledo engano. Em instantes de sanidade e clareza, percebemos - incapazes de reação - que no fim das contas é o coração quem manda. Ele é que nos domina. Jamais o inverso.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Perdão por tanto amar


Hoje me sinto tão culpado. Por tanto amar, acabei trazendo o mal a quem desejo tanto bem. Tudo o que mais quero é ver o seu sorriso. Contemplar o brilho de seus olhos envoltos na magia de viver. Entretanto, o que vi foram olhos encharcados em lágrimas. Lágrimas de desilusão, de desalento. Perdoe-me, meu amigo. Não pretendia causar-lhe a dor que causei. O amo muito. Não podia deixar que se iludisse. Agi errado. Talvez fosse melhor deixá-lo viver seu sonho. Ao menos você sorria. Ao menos acreditava em algo. Eu que sempre fui entusiasta das coisas do coração, achei-me no direito de tentar impedir o seu coração de viajar. A ilusão o fazia mal. Mas se mostrou tão necessária. Já me meti demais, meu querido irmão. Não mais tentarei impedir o seu coração de acreditar nessa verdade. A ilusão o machuca, mas a verdade da qual estou certo o machuca mais. Perdoe-me pela dureza de minha incredulidade. Perdoe-me por não ser assim tão cúmplice do seu sentir quando deveria ser. Agi por amor. Falei por não me permitir perder o seu riso. Acabei perdendo do mesmo jeito. Como me arrependo da "minha verdade". Como lamento pelo brilho inverso dos seus olhos. Espero que me perdoes, meu amigo; irmão de minha alma. Eu te amo. Amo muito.

terça-feira, 26 de junho de 2012

O que passou, passou.


Vejo o passar da vida como o amanhecer do dia. Cada amanhecer nos reserva a possibilidade de um dia novo, de experiências novas. Um dia é a continuação do outro; disso não tenho dúvida. Todavia, essa continuação do dia anterior não deve nos fazer reviver o que nos fez chorar. Os amanheceres que a vida nos proporciona são a possibilidade de superarmos as frustrações passadas. Ainda que o dia anterior tenha sido de muita felicidade, precisamos compreender que ele também passa. É preciso reconhecermos que algumas coisas vão-se embora junto com os dias. Mesmo aquelas que nos fizeram bem. Não é fácil, mas é preciso aceitar quando até o riso é passado, e agora é só boa lembrança. Para sermos felizes no momento do “hoje” é preciso desapegarmos do “ontem”; seja mal ou bem. Supere. Reconstrua sua vida a partir das lembranças nobres que tem. Se passou, viva da saudade que o alimenta. Mas não tente reviver o passado. Ele não será o mesmo. E o pior: talvez você jamais o reviva. Talvez você sofra por não ter correspondida a sua expectativa. A culpa não é sua. É o presente que exige a superação. E o futuro, de riso ou de choro, depende das escolhas que você fará no próximo amanhecer. Escolha ser feliz. Escolha viver algo novo. Deixe as coisas do passado na memória, no coração. Viva o novo dia. Viva o hoje. Apenas viva...

quinta-feira, 21 de junho de 2012

De volta ao caminho.


Às vezes o coração nos consterna. Não é o melhor conselheiro, eu sei. Mas ele é tão verdadeiro quanto ao que sente. Não se esconde em personagens vazios, nem usa máscaras frias para disfarçar sua face. Quando quer sorrir, não mede esforços; quando tem vontade de chorar, apenas chora. Vivo em constante caos metafísico. Razão e emoção brigam a todo instante pela atenção de minha consciência. Uma parte de mim teme a dor do desengano, mas outra parte necessita da aventura de tentar. Não sei se recuo ao meu esconderijo tão seguro, ou se caminho em direção ao horizonte por essa estrada tão incerta chamada “vida”. Fato é que no meu abrigo estarei livre de toda dor que me possa ferir. Mas também é fato que é na estrada tortuosa onde encontro toda sorte de emoções singulares. Se na segurança da minha fortaleza tenho o acalanto da calmaria, na jornada ao horizonte encontro amigos. Verdade é que alguns amigos estão comigo sempre, seja no esconderijo, seja na estrada. Entretanto, não posso ignorar que haverão outros viajantes pelo caminho. Todos com histórias a dividir. Todos com amigos a conquistar. A batalha travada é forte. Mas já tenho uma decisão. Vou sair do abrigo. Outra vez haverei de me aventurar rumo ao horizonte. Sei que poderei me ferir, mas a dor é parte intrínseca da vida. E mais intenso que a dor, será o ressurgir da esperança ao contemplar os olhar sincero de quem aprendeu a ser forte. Aprenderei a ser forte também. Ser forte não é abrir mão de chorar – porque o choro engrandece o homem. Ser forte é acreditar, ainda que todo vento seja contrário. Vou seguir com minha jornada, porque é de emoção que a vida precisa. É de emoção que vive o homem.

domingo, 3 de junho de 2012

Só dando um tempinho...

Boa noite, seus lindos.
Estou um pouco ausente por aqui. Já tem quase um mês que não posto nada. Acontece que a vida anda muito corrida com as atividades acadêmicas. Mas estou preparando alguns textos e breve postarei. Até lá, vocês podem ir dando uma lida nos textos anteriores e dizendo o que acham. É sempre uma honra em tanto vê-los por aqui. Até mais, gente bonita.
Beijo do Boka.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

A educação além da regra.


Li e ouvi inúmeras vezes sobre a norma culta da língua e sempre achei interessante a questão do uso das Próclises, Mesóclises e Ênclises. Tentei aprender sobre todas as colocações “corretas” e sobre o que era “proibido”. De todas as regras, a que mias me impressionou (e ainda impressiona) é a famosa “nunca se usa a próclise em início de frases ou períodos. Nossa! Foi grande a minha luta contra o vício de linguagem que me impulsiona a infringir tal “lei”¹. Gramáticos e Professores de Língua Portuguesa afirmam e reafirmam sobre o erro grotesco que é escrever e falar² de tal forma. E tudo em nome da norma culta da língua.
Cresci e alimentei o escritor atrevido e inexperiente que vive em mim com essa sopa de letrinhas, onde sempre deveria perceber o certo e o errado na escrita e na fala. Em nome da norma culta, fiz-me respeitador das leis da língua, entre elas as da colocação pronominal. E cresci feliz. Todo contente por ser um “exímio cumpridor da lei”. Pobre de mim. Depois de passados mais ou menos 17 anos aprendendo que não devo começar uma frase com a próclise, porque isso é um crime à língua, dou-me ao disparate intelectual de ler Paulo Freire³. Grande foi a minha surpresa quando lia tranquilo, e de repente me deparei com uma próclise no início de uma frase. Não era possível. Reli o trecho incrédulo; minha mente só poderia estar me enganando. Afinal, o mestre jamais cometeria tal abuso à norma. Que constatação cruel ao meu espírito tão respeitador das regras: o mestre Paulo Freire realmente havia escrito “aquilo”, não uma, mas inúmeras vezes em seu texto. E se alguém duvida, fique à vontade. Leia alguma obra do autor e comprove o que digo.
O fato é que estava lá. A próclise em início de períodos escritos por Paulo Freire, um dos maiores intelectuais brasileiros de todos os tempos, e um ícone na educação. Incrédulo com o que via, formulei uma dúvida em minha mente: será que o mestre não era tão intelectual quanto se pensava, ou a norma culta não passa de um capricho dos gramáticos e professores, a fim de enlouquecer a vida dos amantes da língua? Ponderei... Ponderei muito. Entendi, finalmente, que a norma culta não é mero capricho, bem como não é uma colocação pronominal que diminuirá a grandeza do Paulo Freire. Com ou sem próclises “inadequadas” suas obras causaram grandes revoluções educacionais no Brasil e até fora dele. Isso basta.
Chego, portanto, à conclusão de que a norma culta é agradável aos olhos e ouvidos. Porém, jamais será mais importante que o pensar. Escrever e falar bem é um diferencial em tanto. Mas coordenar as ideias (e ter ideias) é indispensável ao homem. Compreendi que o mestre soubesse das regras gramaticais de sua língua, mas com certeza privilegiava o aprendizado. E nesse ponto eu concordo plenamente com ele; quem não concordaria? Sabemos que homens cultos podem chamar atenção por sua fluência verbal. Todavia, uma revolução social só é possível com pessoas educadas, preparadas para pensar. Os nossos homens cultos até conseguiram estremecer as estruturas do sistema alienador de nossa nação. Mas conseguiram pouco, porque o nosso povo não compreende sua cultura, pelo simples fato de não ser educado. Agora sou capaz de entender o porquê do Freire ter ignorado as normas: primeiro a gente educa, depois “ensina a falar (e escrever)”. Era isso o que o mestre queria. É isso o que deve querer todo cidadão que se diga educador. Faço coro nesse exército e não terei problemas em desrespeitar a norma, quando a educação for o fim desejado e sempre superior a qualquer outro fim. Grande Paulo Freire.

Deiglisson Santana
Recife, 14 de Maio de 2012

¹ Caso você não tenha percebido, acado de usa a próclise em início de período propositadamente.
² No Brasil, o uso de próclise em início de frases é um vício de linguagem muito forte, e por isso, alguns professores e gramáticos consideram “admissível” que se fale assim. Todavia, repudiam completamente que a linguagem escrita desrespeite essa regra.
³ O primeiro livro que li do autor foi A Importância do Ato de Ler (Editora Cortez).

sábado, 5 de maio de 2012

Não há como resistir a eles.


Ah, esses sujeitos “estranhos” que nos conhecem tão bem. Pessoas tão diferentes de nós e tão “pares” de nossas emoções. Os mais novos são comportados em demasia, mas basta o correr dos dias, e se tornarão as pessoas mais folgadas que já conheceu na vida. Uma hora parecem nosso pais, outra são nossos filhos. Uns parecem bobos, outros mais bobos ainda. Podem nos fazer rir e podem se fazer de fortes quando precisamos de fortaleza. E, por mais que disfarcemos, eles sempre nos deixam com cara de idiotas quando aparecem. Seja homem, mulher, ou seja o que queiram ser, não importa. Importa tão somente o sentimento nobre e forte que em nós provocam.
Quem são eles? Eles são aquelas pessoas estúpidas que nos xingam, brigam com a gente, nos apelidam com nomes patetas e causam estranheza quando nos chamam pelo nome. Sim, é sobre eles essa prosa: sobre os amigos.
Essas pessoas que chegam de mansinho, como quem não quer nada, e em certo tempo tomam nosso coração de assalto. De repente, somos invadidos por um sentimento que transcende toda explicação lógica. Então, não há mais o que se fazer; o vírus do “amor amigo” já nos há infectado. É assim o surgimento das grandes amizades.
Aliás, as grandes amizades, assim como as paixões arrebatadoras, não escolhem momento para acontecer; simplesmente acontecem. As grandes amizades, todavia, diferem em tempo das grandes paixões, porque, ao contrário destas, sua força não finda e seu sentir é imortal.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

De repente um sonho.


De repente um sonho nostálgico. Sonhei que revia, num só momento, todos aqueles a quem amo. Lembrei de cada instante eterno vivido com eles; com cada um deles. Meu coração apertou ao sentir das lembranças. No meu sonho, vi também crianças brincado alegres, correndo descalças, sorrindo ao soprar suave do vento noturno. Estava noite e eu assistia a tudo sentado na frente de minha casa.

Então percebi que sonhava com a paz. Sim, com a paz. Porque no meu sonho não se via pessoas tristes. Apenas eu, empertigado pelo calafrio que me apertava o peito em uma mistura de ternura e de saudade. Por um momento sublime pude contemplar a personificação da felicidade em todos os rostos que vislumbrava. Eram senhoras, meninos, meninas, homens. Todos exalavam um estado de solitude plena no olhar. Parecia não existir dor no mundo ― no meu mundo holográfico. ― Apenas o amor existia e bastava a si mesmo. Mas era só um sonho, e de repente acordei.

O abrir dos olhos fez-me perceber o quanto era doce o meu sonho e novamente senti o coração comprimir-se. Dessa vez o aperto era real ― talvez o fosse também, enquanto sonhava ―, mas agora o que me consternava não era a saudade, apenas; era também o constatar da realidade. A realidade dura e gélida dos homens todos. Uma realidade onde não se ri tanto, onde as crianças não correm ligeiras como antes. Agora sabia que apenas havia sonhado com a Paz. Que todos os risos e olhos profundos eram projeções da alma de meu “eu menino”, a ansiar por uma felicidade quase utópica para a humanidade de hoje. Foi como sentir o mundo desabar sobre minhas costas, concluir que todo aquele momento não passou de um sonho. Que alguns dos meus amados estão longe, e outros até mortos. Senti vontade de chorar, e quase chorei.

Entretanto, quando os olhos já brilhavam com o surgir das lágrimas, olhei a rua. Vi meninos jogando bola na velha pracinha em frente à minha casa. Ah, visão gloriosa. Vi crianças cumprindo seu papel essencial nesse mundo: apenas ser crianças. Chorei, finalmente. Não mais o choro do desalento por despertar do sonho com a Paz. Não. As lágrimas agora eram pelo gozo de ver crianças sorrindo. Porque enquanto houver uma criança a rir contente no mundo, haverá também a esperança de ter um sonho, e o sonho de ter uma esperança.

Deiglisson Santana
Recife, 30 de Abril de 2012 

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Homens também AMAM.


“― lembra quando nós éramos crianças?
A gente andava de mãos dadas, dormia na mesma cama; e ninguém via maldade em nada.
É. Mas isso porque a gente era menina. Se a gente fosse menino, era o maior bafom.
É, parece que as meninas tem mesmo um alvará para expressar os sentimentos.”
(As Brasileiras)

No episódio dessa semana, a série As Brasileiras trouxe para a sua pauta o homossexualismo. Na narrativa, a protagonista, interpretada pela cantora Sandy, ouve sua mãe comunicar que está namorando uma mulher. A reação da garota é ignorar sua genitora e renegar o seu relacionamento lésbico. Em um dos momentos da trama (marcada pelo discurso contra a intolerância) acontece o diálogo aqui tomado por epígrafe.
Nem preciso me estender em exemplos muitos e argumentos intermináveis para expressar o quanto o convívio social é marcado pelos estereótipos. Pelo preconceito. “Pre-conceito”, aliás, que quer dizer opinião “preconcebida”. Pensar algo sobre alguém (ou alguma coisa) sem um conhecimento prévio acerca do que se faz o julgamento. E assim, sob a bandeira da arrogância, a sociedade segue criando seus tabus e sobrevive em função deles. Como citado na conversa entre as duas moças, ninguém via maldade quando duas meninas amigas eram vistas andando de mãos dadas, ou dormindo juntas. Todavia, se um menino encontra um amigo na rua e o abraça afetuosamente é olhado torto pelos “juízes da indecência”. Que absurdo. Passei a minha infância inteira ouvindo que homem não chora, não abraça, não ama. E não eram os meus pais que me diziam isso (tenho pais maravilhosos, diga-se de passagem), mas as pessoas que encontrava na rua. E o pior de tudo é ver que com o passar dos anos, e com toda a evolução do pensamento humano, esses tabus continuam ditando o comportamento de nossas crianças e de nossos homens também. Ao dizer “homens” cito inclusive mulheres que se deixam entorpecer pelo falar infame da multidão.
Estereotipar parece ser o “esporte da vez”. Acabamos criando padrões (preconceituosos, não esqueçamos) para todos os tipos e rostos. Um homem sujo e mal vestido é um mendigo. Se for mal encarado é ladrão. Sele ri muito é “veado”; se ri pouco é mal amado. Desse modo, vivemos criando e recriando rótulos aos nossos semelhantes. Será tão difícil concluir que o homem sujo pode ter sofrido algum tipo de acidente, ou que o de pouco riso é introvertido? Por que é tão mais fácil postular o risonho como gay, ao invés de feliz? E se for gay, qual o problema com isso? E se não for, qual o problema também? Acontece que nos tornamos cada vez mais “donos da vida alheia” e nos julgamos sempre os arautos da moral e da verdade.
Fico intrigado quando me deparo com um menino prendendo o choro, ao sentir dor, porque aprendeu que homens não choram. Pasmo diante do jovem que se recusa a abraçar um irmão (ou amigo) para não agir como um boiola. Não consigo expressar a consternação sentida por mim diante de um “Eu te amo” não dito, por que havia outras pessoas olhando. É triste. É muito triste ver homens sem se abraçar, sem expressar o quanto amam seus amigos, ou pais, ou filhos só porque são “iguais”. Sim, são iguais no sexo, é verdade. Assim como são iguais no sentimento, e assim como são iguais na dor. Homem chora sim. E chora muito, se quer saber. Chorar ou não chorar (amar ou não ou não amar) não fará do homem mais ou menos homem. O que fará esse homem menos do que ele é será o seu caráter, e não a sua emoção. Que fique claro, portanto, a necessidade que todos temos de amar e de ser amados, independente de como seja esse amor e de qual maneira se manifeste. Homens, mulheres, meninos e meninas, todos somos feitos para o amor. E o amor é o que nos faz humanos, nada mais que isso. Todo o resto é pura invencionice insana de quem não tem mais a quem amar.

Deiglisson Santana
Recife, 27 de Abril de 2012

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Aonde vamos, afinal?

Certo dia ouvi uma sábia mulher dizer: "A única maneira para se ter paz de espírito é procurar por ela." Ela tinha razão. O dia a dia torna nossa vida tão agitada, tão efusiva, que perdemos o foco do que realmente importa. Corremos o tempo todo em busca de algo que muitas vezes nem sabemos o que é; apenas corremos. Nessa correria diária fechamos os olhos (a alma, na verdade) aos instantes mágicos que fazem toda a diferença. Não observamos quando a criança ri, ou quando os homens choram. Não percebemos a ternura no olhar do idoso. Não paramos para dizer "oi", ou "como vai?"; apenas corremos. Mas corremos em busca de quê, para onde? Não sabemos. Sabemos apenas que corremos, mas nunca saberemos ao certo onde queremos chegar. A única coisa que sabemos é o quanto perdemos enquanto corríamos sem rumo. Bom dia, gente bonita.

segunda-feira, 5 de março de 2012

A Bendita Palavra Bem Dita


 A palavra é uma fonte de poder inesgotável. Tem mais poder de influência, quem melhor a utiliza. Adotada pela humanidade desde os seus primórdios, a fim de suprir a necessidade de comunicar, sempre foi percebida como ferramenta fundamental para o propósito de convencimento da audiência a quem se destinasse, desde que escolhida com cautela e devidamente posicionada no texto. Seja este informativo, de cunho jornalístico, ou aquele que tem a intenção de convencer alguém sobre uma ideia, ou conceito; é o caso do texto persuasivo, o texto publicitário.
      O grande desafio de quem lida com a palavra como ferramenta de seu trabalho é alcançar o resultado esperado para a sua empreitada textual. De que forma pode, o escritor, alcançar o âmago das pessoas para quem escreve e, assim, obter o retorno desejado? Tal dúvida é o algoz de todo aquele que se dispõe a falar a um público composto por pessoas distintas em sua maneira de pensar e agir. Embora tais indivíduos possuam alguma semelhança específica para o fim galgado durante a produção do texto, existe uma série de fatores sociais e psicológicos que podem interferir na forma como estes o recebem e o disseminam. Portanto, é condição impreterível que a pessoa “por trás” das palavras conheça bem as singularidades de sua audiência.
        Escrever a palavra bem dita é escrever aquilo que o leitor gostará de encontrar no que lê: a verdade. É causar neste receptor o prazer de se deparar com algo que pertença à sua realidade individual. Nem sempre isso significa dizer o que o outro quer ouvir, mas dizer algo que outro se sinta bem em ouvir, mesmo que não seja o que ele queira. A palavra bem dita é aquela que tem a capacidade de despertar a atenção no público. Aquela palavra que tem “vida própria”, que provoca murmúrios e respeito, pela segura veracidade que emana. Escrever a palavra bem dita, portanto, é escrever com verdade e delicadeza. É escrever como se olhasse nos olhos de quem lê. Essa escrita deve ser coesa, coerente e clara. Deve manter o foco e ter uma lógica compreensível. Melhor ainda, é quando se mantém um clima de prosa, de conversa entre escritor e leitor. Sentir-se parte do todo que lê é extremamente prazeroso ao indivíduo.
        Não é tarefa fácil escrever a tal “palavra bem dita”, mas quando se realiza essa façanha o resultado é sempre magnífico. O homem que a pronuncie (ou escreva) terá o espaço de que precisa para convencer o público a aceitar seu ponto de vista. Uma vez que a palavra bem dita será bem recebida, e sendo bem recebida tornar-se-á, por fim, bendita; a bendita palavra que encantou a massa, e que foi aceita como palavra digna.