sexta-feira, 27 de abril de 2012

Homens também AMAM.


“― lembra quando nós éramos crianças?
A gente andava de mãos dadas, dormia na mesma cama; e ninguém via maldade em nada.
É. Mas isso porque a gente era menina. Se a gente fosse menino, era o maior bafom.
É, parece que as meninas tem mesmo um alvará para expressar os sentimentos.”
(As Brasileiras)

No episódio dessa semana, a série As Brasileiras trouxe para a sua pauta o homossexualismo. Na narrativa, a protagonista, interpretada pela cantora Sandy, ouve sua mãe comunicar que está namorando uma mulher. A reação da garota é ignorar sua genitora e renegar o seu relacionamento lésbico. Em um dos momentos da trama (marcada pelo discurso contra a intolerância) acontece o diálogo aqui tomado por epígrafe.
Nem preciso me estender em exemplos muitos e argumentos intermináveis para expressar o quanto o convívio social é marcado pelos estereótipos. Pelo preconceito. “Pre-conceito”, aliás, que quer dizer opinião “preconcebida”. Pensar algo sobre alguém (ou alguma coisa) sem um conhecimento prévio acerca do que se faz o julgamento. E assim, sob a bandeira da arrogância, a sociedade segue criando seus tabus e sobrevive em função deles. Como citado na conversa entre as duas moças, ninguém via maldade quando duas meninas amigas eram vistas andando de mãos dadas, ou dormindo juntas. Todavia, se um menino encontra um amigo na rua e o abraça afetuosamente é olhado torto pelos “juízes da indecência”. Que absurdo. Passei a minha infância inteira ouvindo que homem não chora, não abraça, não ama. E não eram os meus pais que me diziam isso (tenho pais maravilhosos, diga-se de passagem), mas as pessoas que encontrava na rua. E o pior de tudo é ver que com o passar dos anos, e com toda a evolução do pensamento humano, esses tabus continuam ditando o comportamento de nossas crianças e de nossos homens também. Ao dizer “homens” cito inclusive mulheres que se deixam entorpecer pelo falar infame da multidão.
Estereotipar parece ser o “esporte da vez”. Acabamos criando padrões (preconceituosos, não esqueçamos) para todos os tipos e rostos. Um homem sujo e mal vestido é um mendigo. Se for mal encarado é ladrão. Sele ri muito é “veado”; se ri pouco é mal amado. Desse modo, vivemos criando e recriando rótulos aos nossos semelhantes. Será tão difícil concluir que o homem sujo pode ter sofrido algum tipo de acidente, ou que o de pouco riso é introvertido? Por que é tão mais fácil postular o risonho como gay, ao invés de feliz? E se for gay, qual o problema com isso? E se não for, qual o problema também? Acontece que nos tornamos cada vez mais “donos da vida alheia” e nos julgamos sempre os arautos da moral e da verdade.
Fico intrigado quando me deparo com um menino prendendo o choro, ao sentir dor, porque aprendeu que homens não choram. Pasmo diante do jovem que se recusa a abraçar um irmão (ou amigo) para não agir como um boiola. Não consigo expressar a consternação sentida por mim diante de um “Eu te amo” não dito, por que havia outras pessoas olhando. É triste. É muito triste ver homens sem se abraçar, sem expressar o quanto amam seus amigos, ou pais, ou filhos só porque são “iguais”. Sim, são iguais no sexo, é verdade. Assim como são iguais no sentimento, e assim como são iguais na dor. Homem chora sim. E chora muito, se quer saber. Chorar ou não chorar (amar ou não ou não amar) não fará do homem mais ou menos homem. O que fará esse homem menos do que ele é será o seu caráter, e não a sua emoção. Que fique claro, portanto, a necessidade que todos temos de amar e de ser amados, independente de como seja esse amor e de qual maneira se manifeste. Homens, mulheres, meninos e meninas, todos somos feitos para o amor. E o amor é o que nos faz humanos, nada mais que isso. Todo o resto é pura invencionice insana de quem não tem mais a quem amar.

Deiglisson Santana
Recife, 27 de Abril de 2012

Um comentário:

  1. Eu não preciso acrescentar mais nada. Todos de fato nascemos para o amor, pois quem nao consegue amar com certeza vivo já não mais está!
    Abração primo! Te amo!

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