segunda-feira, 30 de abril de 2012

De repente um sonho.


De repente um sonho nostálgico. Sonhei que revia, num só momento, todos aqueles a quem amo. Lembrei de cada instante eterno vivido com eles; com cada um deles. Meu coração apertou ao sentir das lembranças. No meu sonho, vi também crianças brincado alegres, correndo descalças, sorrindo ao soprar suave do vento noturno. Estava noite e eu assistia a tudo sentado na frente de minha casa.

Então percebi que sonhava com a paz. Sim, com a paz. Porque no meu sonho não se via pessoas tristes. Apenas eu, empertigado pelo calafrio que me apertava o peito em uma mistura de ternura e de saudade. Por um momento sublime pude contemplar a personificação da felicidade em todos os rostos que vislumbrava. Eram senhoras, meninos, meninas, homens. Todos exalavam um estado de solitude plena no olhar. Parecia não existir dor no mundo ― no meu mundo holográfico. ― Apenas o amor existia e bastava a si mesmo. Mas era só um sonho, e de repente acordei.

O abrir dos olhos fez-me perceber o quanto era doce o meu sonho e novamente senti o coração comprimir-se. Dessa vez o aperto era real ― talvez o fosse também, enquanto sonhava ―, mas agora o que me consternava não era a saudade, apenas; era também o constatar da realidade. A realidade dura e gélida dos homens todos. Uma realidade onde não se ri tanto, onde as crianças não correm ligeiras como antes. Agora sabia que apenas havia sonhado com a Paz. Que todos os risos e olhos profundos eram projeções da alma de meu “eu menino”, a ansiar por uma felicidade quase utópica para a humanidade de hoje. Foi como sentir o mundo desabar sobre minhas costas, concluir que todo aquele momento não passou de um sonho. Que alguns dos meus amados estão longe, e outros até mortos. Senti vontade de chorar, e quase chorei.

Entretanto, quando os olhos já brilhavam com o surgir das lágrimas, olhei a rua. Vi meninos jogando bola na velha pracinha em frente à minha casa. Ah, visão gloriosa. Vi crianças cumprindo seu papel essencial nesse mundo: apenas ser crianças. Chorei, finalmente. Não mais o choro do desalento por despertar do sonho com a Paz. Não. As lágrimas agora eram pelo gozo de ver crianças sorrindo. Porque enquanto houver uma criança a rir contente no mundo, haverá também a esperança de ter um sonho, e o sonho de ter uma esperança.

Deiglisson Santana
Recife, 30 de Abril de 2012 

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