De
repente um sonho nostálgico. Sonhei que revia, num só momento,
todos aqueles a quem amo. Lembrei de cada instante eterno vivido com
eles; com cada um deles. Meu coração apertou ao sentir das
lembranças. No meu sonho, vi também crianças brincado alegres,
correndo descalças, sorrindo ao soprar suave do vento noturno.
Estava noite e eu assistia a tudo sentado na frente de minha casa.
Então
percebi que sonhava com a paz. Sim, com a paz. Porque no meu sonho
não se via pessoas tristes. Apenas eu, empertigado pelo calafrio que
me apertava o peito em uma mistura de ternura e de saudade. Por um
momento sublime pude contemplar a personificação da felicidade em
todos os rostos que vislumbrava. Eram senhoras, meninos, meninas,
homens. Todos exalavam um estado de solitude plena no olhar. Parecia
não existir dor no mundo ― no meu mundo holográfico. ― Apenas o
amor existia e bastava a si mesmo. Mas era só um sonho, e de repente
acordei.
O
abrir dos olhos fez-me perceber o quanto era doce o meu sonho e
novamente senti o coração comprimir-se. Dessa vez o aperto era real
― talvez o fosse também, enquanto sonhava ―, mas agora o que me
consternava não era a saudade, apenas; era também o constatar da
realidade. A realidade dura e gélida dos homens todos. Uma realidade
onde não se ri tanto, onde as crianças não correm ligeiras como
antes. Agora sabia que apenas havia sonhado com a Paz. Que todos os
risos e olhos profundos eram projeções da alma de meu “eu
menino”, a ansiar por uma felicidade quase utópica para a
humanidade de hoje. Foi como sentir o mundo desabar sobre minhas
costas, concluir que todo aquele momento não passou de um sonho. Que
alguns dos meus amados estão longe, e outros até mortos. Senti
vontade de chorar, e quase chorei.
Entretanto,
quando os olhos já brilhavam com o surgir das lágrimas, olhei a
rua. Vi meninos jogando bola na velha pracinha em frente à minha
casa. Ah, visão gloriosa. Vi crianças cumprindo seu papel
essencial nesse mundo: apenas ser crianças. Chorei, finalmente. Não
mais o choro do desalento por despertar do sonho com a Paz. Não. As
lágrimas agora eram pelo gozo de ver crianças sorrindo. Porque
enquanto houver uma criança a rir contente no mundo, haverá também
a esperança de ter um sonho, e o sonho de ter uma esperança.
Deiglisson Santana
Recife, 30 de Abril de 2012