Não. Nem sempre sou “assim, tão
otimista.” Às vezes sinto vontade de jogar tudo pro alto e me deixar vencer
pelo cansaço. Às vezes penso em abandonar tudo, desistir dos sonhos, renegar a
esperança. Mandar embora de mim os duendes, as fadas, e tudo o que é encanto. Desfazer-me
da fantasia e abdicar de tudo o que me faz fantasista. Penso em não mais virar
a página, em deixar secar a tinta da pena.
Certa vez tremi ao contemplar a
realidade como quem penetra os olhos gélidos de uma bruxa má. Eu menino perdido
no meio de uma floresta negra; assombrada por seres malévolos de instintos
covardes. Monstros feios, tortos, asquerosos. Criaturas horrendas que habitam
os recônditos de minha floresta chamada “medo”. Medo do que virá em seguida, medo
do novo.
Respirei
fundo. Fitei com firmeza aquela bruxa silenciosa. Em uma projeção, vi na mesa
as folhas em branco. Notei que a tinta ainda era fresca na ponta da pena. Ao
lado um menino passava acanhado e me sorriu banguela. Parecia ter nas mãos um
pouco do “pó de pirlimpimpim”; era um duende. E trouxe consigo as fadas; e
trouxe consigo a fantasia; e trouxe novamente a criança vivendo em mim. Pisquei
os olhos e não mais estava sentado à mesa. Estava novamente na floresta. Então
percebi que a “bruxa Realidade” nem era, assim, tão má. Era, na verdade,
sisuda, mas dona de um grande senso de humor. Capaz até de não raras benesses.
E as criaturas que me assombravam? Bem, elas permaneciam lá, causando arrepios
com seus uivos de desilusão, desesperança e desalento. Mas entendi que apenas
me assombravam, e nada mais. Tomei um gole d’água e a vetusta bruxa seguiu me
fitando. “Perdoe-me, senhora, mas preciso seguir o meu caminho.” Ela me sorriu
cúmplice. Chegou-se para o lado e me deu passagem: “Vá em paz, meu caro menino.
A ‘terra do nunca’ é logo à frente. E não esqueça. Sempre haverá um horizonte.”
Foi então que despertei do sono naquela noite. Nos olhos uma lágrima. E nas mãos... um punhado de
letras.
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